Durante esse final de semana está acontecendo a Copa Sur, em Vitória-ES, que irá classificar os representantes da América do Sul para o Crossfit Games. Aproveitamos que alguns dos nossos atletas foram para o Espírito Santo acompanhar esse megaevento de perto para trazer para vocês o relato deles de como foi essa experiência a cada dia. Aproveitem essa análise completa e detalhada feita pelo Ale Ushizima, o Japa, que está em Vitória passando o dia dos namorados com a Fran Ushizima, sua esposa, acompanhando a semifinal do Crossfit Games.
DAY 2
Tivemos a sensação de que deveríamos chegar bem cedo na arena para garantir um local privilegiado. Então, chegamos por volta das 07h20 com início previsto da primeira bateria às 08h00. Chegando na arena, conseguimos ficar em frente à raia 06, ou seja, ampla visão das provas e, ainda, bem próximo dos principais atletas das baterias.
Por volta das 09h, as arquibancadas começaram encher com uma velocidade significativa. Apesar de termos chego bem cedo para pegar um local especial, algumas pessoas inconvenientes se “enfiavam” entre os espaços e começavam empurrar para conseguir um lugar junto à grade, como se tivéssemos obrigação de ceder. Porém, no final deu tudo certo.
A primeira bateria de times começou pontualmente no horário programado. O evento consistia em rope climb legless e thrusters, uma prova bem sugada e ótima para o público assistir. Nesse momento, já era possível identificar alguns problemas na arena, que na transmissão não pareciam tão nítidos. O chão estava visivelmente torto. A barra ficava rolando por conta do desnível.
Nesse evento também aconteceu algo semelhante ao ocorrido no day 01. Falta de padrão de alguns judges no critério da cobrança da movimentação para validação da rep. Alguns atletas eram obrigados a bater a mão em determinado local específico do rig no movimento de rope climb legless, já outros para outros era permitido bater em local mais abaixo. Em determinados momentos, o head judge interferiu na marcação, seja para validar ou invalidar a rep.
Lembrando que, a cobrança de um movimento correto e padronizado, ao nosso ver, não se trata de criar uma enxurrada de “no rep”, mas sim trazer justiça em um evento. Caso contrário, qualquer um poderia fazer o movimento da forma que bem entendesse.
Apesar desse detalhe técnico, foi um evento extremamente gostoso de assistir. A disputa estava bem acirrada em todas as baterias e era possível notar o quanto cada atleta estava se esforçando ao limite máximo do seu corpo. Diversas atletas ficaram com a musculatura dos braços extremamente fadigada por conta da subida em legless.
No segundo evento de times, que consistia na escada de snatch, apareceu o primeiro problema sério. A irregularidade do piso da arena. Olhando a arena, era possível notar que o piso de borracha ficava com alguns relevos em algumas áreas, mas após a colocação das 11 plataformas de LPO, a irregularidade ficou impossível de não enxergar. Tanto é verdade que a organização colocou pequenos quadrados de borracha perto das anilhas para evitar que as barras saíssem rolando para fora das plataformas. Quando os quadrados saíam voando por conta da barra caindo na plataforma, os judges tinham que ficar segurando para que elas não tomassem um rumo em direção à plataforma vizinha. Em nenhuma outra semifinal aconteceu isso.
Outro fato curioso que chamou a atenção foi a qualidade duvidosa das plataformas de LPO. Eram apenas uma chapa de compensado naval colado com pisos de borracha na lateral. Talvez tenha faltado um pouco mais de cuidado em tentar seguir o mesmo padrão que as demais semifinais que rolaram ao redor do globo.
A pior falha que rolou nesse evento foi logo na primeira bateria onde uma judge em específico não permitiu que um atleta realizasse a tentativa de repetição de snatch até, PASMEM, faltar 3 segundos para o término da janela de LIFT. Ela simplesmente se perdeu e quase prejudicou o time de uma maneira absurda. Por sorte dela, o atleta conseguiu validar o movimento e seguiu até a décima primeira tentativa de arranque onde conseguiu bater PR em 10kg, levantando o total de 130kg.
Apesar de todos os infortúnios, o que gostamos mesmo é ver o peso sendo jogado para cima. A cada repetição válida a torcida urrava, para cada erro a torcida gritava, era uma sensação de arrepiar.
A próxima prova era a mais esperada da Copa Sur, consistindo em um barbell complex de 3 clean + 2 front squat + 1 shoulder to overhead. Novamente, uma das dificuldades que pudemos observar foi o problema de nivelação do piso, pois as atletas não conseguiam manter a barra parada na plataforma e ainda seguir as regras de entrar na plataforma somente quando autorizadas. Assim, elas perdiam preciosos segundos e, provavelmente, prejudicando a concentração para realizar a movimentação.
Contudo, a prova não perdeu seu brilho, sendo extremamente emocionante.
Na sequência chegamos no momento mais esperado do dia. A prova de barbell complex masculina. Todos os presentes e o mundo inteiro estavam de olho na carga do Gui Malheiros. Será que ele iria quebrar o recorde de 355lbs?
A primeira rotação ocorreu sem maiores problemas. Todos os atletas ergueram as cargas iniciais e partiram para a segunda rotação. Aqui aconteceu a lesão do Anderon Primo. O primeiro clean foi realizado com certa tranquilidade, porém, na segunda repetição ao receber a barra no squat clean, foi visível que ele tinha sentido uma lesão próxima à região do quadril. A arena foi tomada foi uma sensação de preocupação e o silêncio foi ensurdecedor. O campeonato havia acabado para ele naquele momento.
A prova prosseguiu sem maiores problemas. O Gui havia colocado 158kg na barra, mas, diante do ocorrido, optou por não realizar a segunda rotação.
No início da terceira rotação, a torcida inteira começou gritar “162” na arena. Chegando próximo à vez do Gui, ele atendeu o pedido da torcida e alterou a carga da barra colocando o tão esperado 162 (aproximadamente 356 libras). Nessa hora, a galera foi ao delírio. A vibe da torcida foi de amolecer as pernas e arrepiar os pelos. O chão tremeu. A sensação foi indescritível.
No segundo mais esperado, ele não titubeou. Foram 3 repetições de clean e 2 front squats como se a barra não tivesse peso. Faltava somente o shoulder to overhead. Um breve silêncio tomou a arena. Quando ele fez a repetição válida a torcida foi à loucura. Não temos palavras para expressar a sensação de ter assistido presencialmente a cena. Foi um misto de sentimentos. O recorde havia sido batido e era brasileiro!
Na segunda prova individual feminina, alguns atletas também foram prejudicados na falta de padrão para marcação do legless, mas nada que tirase o brilho do espetáculo. A disputa na prova de legless e shutter run foi acirrada em todas as baterias. Apesar de ser uma prova com movimentos não tão “legais” para a comunidade, acabou sendo prazeroso assistir presencialmente, pois era possível ver a garra da mulherada. Embora o legless seja um movimento extremamente difícil para as mulheres, as atletas deram um show.
No evento masculino individual, foi divertido observar a pegada competitiva que os atletas estavam impondo nas baterias. Todos realizavam os movimentos olhando a raia vizinha para saber qual ritmo empregar na prova.
Na bateria 3 masculina, o inesperado aconteceu. Anderon Primo estava de volta, o “champs” ia fazer a prova. Todos vibraram loucamente gritando seu nome. Nitidamente era possível observar a gravidade da sua lesão, ele estava correndo com muita dificuldade. Mesmo diante da lesão sofrida na primeira prova do dia, ele terminou a bateria muito abaixo do cap de 11 minutos, conquistando a 16 colocação no evento 4.
A organização e limpeza das áreas públicas estavam de maneira satisfatória como no primeiro dia. Muitos eventos paralelos estavam rolando que prenderam a atenção do público como um todo, independentemente da idade.
Assim como no primeiro dia, houve problemas de transmissão do evento para o telão, alguns momentos todos os responsáveis pelo vídeo saíam da arena, ficando somente fotógrafos. Em momentos de desconcentração para o público entre a organização de uma bateria para a outra, rolava a câmera do beijo, provavelmente por conta do dia dos namorados. Foi uma sacada muito boa da organização, rolou uma ótima interação da narração de arena com o público.
Nosso conselho é que, para assistir um evento do tamanho da Copa Sur, se programe, madrugue, não tome muita água, leve algum lanchinho na mochila, arme campana em frente à grade e prepare as pernas para ficar horas em pé. Vale a pena. A diversão e a emoção são garantidas.
IMPORTANTE DAR UMA ANALISADA DE FORA DA TRANSMISSÃO
Conforme vimos e falamos na matéria do primeiro dia, a transmissão foi horrível, problema que foi corrigido no segundo dia. Houve ainda algumas falhas, mas nenhuma tão significativa. A mudança na transmissão nos permitia ouvir alguns comentários do Axel Gouveia fora da transmissão e pelo que ouvíamos ficou muito claro o esforço dele em fazer as coisas acontecerem da melhor forma possível, e deu certo.
Com a transmissão funcionando bem, fomos a semifinal que mais teve pessoas assistindo no final de semana, passando o Atlas Games e o Strength in Depth, transmissões que aconteciam simultaneamente, mas com a produção e divulgação ampla da Crossfit, divulgação que não aconteceu em relação à Copa Sur. Inclusive no site da Crossfit, quando se clicava em Copa Sur, a página levava para a transmissão do Atlas Games, um descaso total.
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